"O maior erro é acreditar que a felicidade consiste nas coisas em si próprias; ela depende da opinião que dela se tiver".Erasmo
Conta-se que Apeles, o mais célebre
pintor da Grécia Antiga, contemporâneo de Alexandre, O Grande, no século IV
a.C., se via irritadíssimo com um seu escravo que perdia a hora de tudo, porque
vivia a contemplar as suas pinturas. Um dia, o ilustre pintor o perguntou
enfático:
- O que tanto você admira nesta pintura,
porque todos os dias fica aí, em devaneios?
- Não admiro apenas a pintura. Fico a
pensar como deve ser feliz quem consegue pintar algo tão bonito.
Apeles se calou, mas a sua opinião não
era a mesma.
O espírito do homem, em geral, é afeito
mais às ilusões que às verdades. Vemos que sob este entendimento se foge do
valor da vida e do que de fato tem valor, na consecução da felicidade.
Elege-se coisas para se possuir, como
fim em si mesmas de felicidade. Perde-as, torna-se infeliz.
Não se reflete a respeito da verdadeira
felicidade, não no possuir, mas em se ser.
O maior dos infelizes é aquele que se
obstina, como andarilho da vida, a buscar o pote de ouro no final do arco-íris,
símbolo do bem sucedido, do feliz.
Não seria verdadeiro se dissesse que os
recursos financeiros e econômicos não trouxessem um certo bem-estar. Claro! Pelo menos o conforto em se sofrer em
uma ilha paradisíaca, em se chorar a bordo de um transatlântico, o dinheiro
traz. Mas, realmente, não é verdadeira a
assertiva de que o dinheiro traz felicidade.
A felicidade verdadeira, direi sem
receio de estar incorrendo em heresia, também não consiste nas conquistas
únicas dos valores espirituais. Não. Não no estágio em que nos encontramos. A
verdadeira felicidade se encontra no ajuste do nosso interior à situação que se
descortina à nossa frente por força das nossas necessidades espirituais, isto
sim, gera a consistência do ser feliz. Será feliz quem compreender o porquê das
limitações que a vida se lhe impõe em todos os níveis, contudo e assim mesmo
sente em si o esplendor e a alegria de estar vivo e na luta pelo crescimento
geral.
Feliz é quem se liberta dos valores
convencionados para a felicidade, sentindo-a a modo de sua compreensão e
acatamento da vida. A verdadeira felicidade é um fenômeno humano difícil de se
ter em plenitude, isto porque ela é objetivada individualmente. Não no regime
de coletividade a que estamos submetidos. Jamais haveremos de ser felizes
plenamente, enquanto não revolucionarmos a maneira de nos situarmos diante da
vida e do nosso viver: precisamos fazer do outro coração a extensão do nosso,
em oferecimento e amor; não em expectativas de obrigações.
Livro: Construção Interior
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