segunda-feira, novembro 16, 2015

A Felicidade



"O maior erro é acreditar que a felicidade consiste nas coisas em si próprias; ela depende da opinião que dela se tiver".
                                                                                                                                                                                Erasmo

Conta-se que Apeles, o mais célebre pintor da Grécia Antiga, contemporâneo de Alexandre, O Grande, no século IV a.C., se via irritadíssimo com um seu escravo que perdia a hora de tudo, porque vivia a contemplar as suas pinturas. Um dia, o ilustre pintor o perguntou enfático:
- O que tanto você admira nesta pintura, porque todos os dias fica aí, em devaneios?
- Não admiro apenas a pintura. Fico a pensar como deve ser feliz quem consegue pintar algo tão bonito.
Apeles se calou, mas a sua opinião não era a mesma.
O espírito do homem, em geral, é afeito mais às ilusões que às verdades. Vemos que sob este entendimento se foge do valor da vida e do que de fato tem valor, na consecução da felicidade.
Elege-se coisas para se possuir, como fim em si mesmas de felicidade. Perde-as, torna-se infeliz.
Não se reflete a respeito da verdadeira felicidade, não no possuir, mas em se ser.
O maior dos infelizes é aquele que se obstina, como andarilho da vida, a buscar o pote de ouro no final do arco-íris, símbolo do bem sucedido, do feliz.
Não seria verdadeiro se dissesse que os recursos financeiros e econômicos não trouxessem um certo bem-estar.  Claro! Pelo menos o conforto em se sofrer em uma ilha paradisíaca, em se chorar a bordo de um transatlântico, o dinheiro traz. Mas, realmente, não é verdadeira  a assertiva de que o dinheiro traz felicidade.
A felicidade verdadeira, direi sem receio de estar incorrendo em heresia, também não consiste nas conquistas únicas dos valores espirituais. Não. Não no estágio em que nos encontramos. A verdadeira felicidade se encontra no ajuste do nosso interior à situação que se descortina à nossa frente por força das nossas necessidades espirituais, isto sim, gera a consistência do ser feliz. Será feliz quem compreender o porquê das limitações que a vida se lhe impõe em todos os níveis, contudo e assim mesmo sente em si o esplendor e a alegria de estar vivo e na luta pelo crescimento geral.
Feliz é quem se liberta dos valores convencionados para a felicidade, sentindo-a a modo de sua compreensão e acatamento da vida. A verdadeira felicidade é um fenômeno humano difícil de se ter em plenitude, isto porque ela é objetivada individualmente. Não no regime de coletividade a que estamos submetidos. Jamais haveremos de ser felizes plenamente, enquanto não revolucionarmos a maneira de nos situarmos diante da vida e do nosso viver: precisamos fazer do outro coração a extensão do nosso, em oferecimento e amor; não em expectativas de obrigações.

Livro: Construção Interior 

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